sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Raul Seixas, a eterna Metamorfose Ambulante, e seu disco de 1974, o Gitâ...

Raul Seixas, um cara polêmico, irreverente, misterioso, porém, sincero.

Quando se fala em Raul, logo se lembra do eterno Maluco Beleza, de sua Metamorfose Ambulante e sua Paranoia que o fizeram virar o nosso querido Raulzito, o inesquecível Cowboy Fora-da-Lei, que sonha um sonho que até hoje que é realidade...



Durante todos esses anos, a obra de Raulzito vem sido cada vez mais conhecida e descoberta por muitos fãs de música no Brasil inteiro, claro que isso se deve em maior parte aos sucessos de seu primeiro álbum, "Krig Ha Bandolo!"; e também à seus sucessos de "Novo Aeon"; e "Há 10 Mil Anos Atrás". Mas uma grande parte de sua fama se deve justamente ao seu álbum lançado em 1974, o tão conhecido "Gitâ".

     Eis aqui algumas fotos do álbum (LP) de que estamos falando nesse artigo:









Então, voltando à história do disco: "Gitâ" começou a ser gravado no início de 1974, e lançado mais ou menos em Julho-Setembro daquele mesmo ano. O ano de 1974 foi uma época muito conturbada para Raul, pois foi justamente no início daquele ano que ele se separava de "Edith", sua esposa até a época (vale lembrar que Edith e Raul tiveram um longo romance, que começou logo no início dos anos 60, quando os Panteras, a primeira banda de Raul, haviam se formado), desde então, o cantor se "encabeçou" com as idéias da "Sociedade Alternativa", uma espécie de "Sociedade Fictícia" criada por ele mesmo e seu melhor amigo na época, o escritor Paulo Coelho. A Sociedade Alternativa era uma "sociedade" baseada na "Lei de Thelema", criada pelo bruxo inglês "Aleister Crowley". Detalhe: inclusive, os álbuns: Gitâ; Novo Aeon; Pedra do Gênesis e outras obras do Raul (musicais ou escritas) que fazem menção à Sociedade Alternativa, recebem o famoso carimbo "Imprimatur" da Sociedade Alternativa.



Foto: Reprodução do selo "Imprimatur/Sociedade Alternativa".



Após as gravações de "Gitâ", enquanto tudo estava sendo mixado e preparado para o lançamento, Raul foi capturado e levado ao DOPS, um dos mais famosos centros de tortura durante o Regime Militar. Após passar alguns dias no DOPS, sofrendo de diversas torturas e vários interrogatórios, o que causou um profundo trauma na mente do cantor, Raul foi "convidado" à sair do Brasil, e assim ele foi aos Estados Unidos, onde ficou por mais ou menos um ano. Por uns tempos, o cantor "passou fome" em Nova York, local aonde se dirigiu após ser expulso do Brasil, andando nas ruas e descobrindo coisas novas, conheceu Jay Vaquer, guitarrista que iria a se juntar com os músicos de Raul em breve, junto com Jay Vaquer, Raul conheceu Glória Vaquer, que por coincidência, seria sua próxima esposa.




Primeira parte da entrevista de Raul em que ele fala mais sobre sua carreira.



Para falar desse "exílio", é impossível não falar do famoso encontro do Maluco Beleza com John Lennon, na época seguindo carreira solo sendo um ex-beatle (se bem que ex-beatle não existe, pois uma vez beatle, sempre beatle...), a versão mais conhecida dessa história foi contada no programa do Jô, em 1989, poucos meses antes da morte de Raul, em que Lennon e Raulzito falaram sobre algumas coisas do mundo, se conheceram, e depois do encontro, cada um seguiu seu caminho...




Trecho da famosa reportagem do Raul no programa do Jô, onde o cantor conta algumas histórias relacionadas à sua carreira na época.



Enquanto isso no Brasil... o Gitâ estourou nas paradas, se tornando disco de ouro por vender mais de 600 MIL cópias, um número de vendas enorme até mesmo para a época, que rendeu à Raul a sua volta ao Brasil em 1975. Durante muito tempo, Gitâ se tornou um dos álbuns mais emblemáticos da carreira do Cowboy Fora-da-Lei, e aqui está uma breve análise sobre as músicas das quais estão presentes no disco:

Super Heróis: Seu riff inicial junto com a intro da guitarra lembram vagamente um belo rockabilly no estilo "anos 50", porém, segundos depois, se revela um Blues contagiante com uma letra divertida, porém, meio aleatória.

Medo da Chuva: A intro da guitarra lembra um pouco o Blues, após a introdução, é iniciada uma letra que Raul escreveu "em homenagem" à sua ex-esposa, Edith. Sendo essa música uma das mais bonitas e filosóficas músicas já feitas por Raul, todo fã que se preze com certeza já pelo menos ouviu falar da música.

As Aventuras De Raul Seixas Na Cidade De Thor: Música de nome longo (tive que dar Ctrl+C, Ctrl+V de preguiça para digitá-la) e com uma das letras mais contra-culturais e críticas (de um certo modo, de forma humorística) já escritas na década de 70. Música que deu nome ao livro que Raul escreveu em 1983, faz vir imediatamente à cabeça um baião, muito similar ao baião do mestre Luiz Gonzaga (vale lembrar que Gonzaga foi provavelmente um dos primeiros ídolos de Raul. Muitas fontes inclusive dizem que Gonzaga foi inclusive ídolo de Raul até mesmo antes do Elvis...).

Foto: Gonzaga, ainda quando jovem (provavelmente entre 1935-1943)

Já no fim da canção, o cantor faz uma revelação: "Raul Seixas e Raulzito sempre foram o mesmo homem". A brincadeira foi feita pelo cantor para revelar que Raulzito, o líder da antiga banda "Raulzito e os Panteras" era na verdade o próprio Raul Seixas. Detalhe: Os Panteras ainda lançaram o seu primeiro (e único) LP em 1968, pela Odeon (na época, a EMI no Brasil), que como alguns fãs de Raul já sabem, foi um puta fracasso comercial (o que ganhará um artigo exclusivo um tempo mais tarde, quem sabe...).

Foto: Capa do LP em questão, além de ter sido um fracasso comercial, ainda é pouco conhecido (mas nem tanto).

Água Viva: Melodia simples e tranquila, acompanhada com orquestra e o violão de Raul, possui uma letra misteriosa e tão filosófica quanto "Medo da Chuva".

Moleque Maravilhoso: Canção que lembra facilmente as antigas baladas norte americanas, com facilidade faz o ouvinte pensar que está passeando em um Chevrolet Bel Air à noite na cidade dos cassinos, a cidade de Las Vegas dos anos 50 (uma experiência imersiva e bem original). A música é de certa forma "auto-biográfica", pois conta de certa perspectiva sobre a fase rebelde do Raul, nos anos 50, quando descobriu o Rock n' Roll de Elvis, Little Richard, etc...

Sessão das 10: Essa é uma velha conhecida, presente também no álbum "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10", da segunda banda de Raul na fase CBS, a "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista", é uma regravação, que lógico, levou toda a fama na época do Gitâ, sem falar que lembra com fidelidade os clássicos Boleros dos anos 40 e 50, que eram um grande sucesso no Brasil.

Sociedade Alternativa: "Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei". A clássica citação já diz tudo, a canção que o Maluco Beleza canta a Sociedade Alternativa, seu sonho da "Sociedade onde se pode tomar banho de chapéu, ou quem sabe, esperar Papai Noel, o disco de Carlos Gardel...", famosa por se tratar de um tema pouco explorado musicalmente na época, principalmente no Brasil, onde estava presente uma massa conservadora em relação à temas religiosos (A Lei de Thelema, a qual a música se baseia, segue os princípios de Aleister Crowley, além de bruxo inglês, era, digamos, "satanista", de acordo com 99% das fontes). Foi esta música que chamou mais a atenção dos militares da época (governo de Geisel), que acusaram a música de promover idéias comunistas.

Trem das Sete: Mais uma canção que lembra o baião, mas com uma fórmula renovada. Esse é um daqueles grandes clássicos que todo fã gosta/já ouviu falar. Fez parte do compacto lançado ao mesmo tempo que o álbum, sendo um dos grandes sucessos do cantor. Simplesmente, uma bela homenagem ao nordeste, além de possuir letra "autobiográfica", pois retrata com outras palavras as viagens que Raul fazia no interior (seu pai possuía uma profissão como mecânico ferroviário, ou algo semelhante, e o pai levava o cantor, na época sendo adolescente, nas suas viagens, por isso, várias músicas de Raul falam sobre trens).

S.O.S: Um country bem humorado com uma letra bem original, e com a famosa citação dos "Discos Voadores", assunto que ficou na cabeça de Raul por muitos anos. Detalhe: Raul quase sempre afirmou com certeza que já sofreu uma abdução alienígena, óbvio, por meio de um disco voador. Quer seja verdade, ou somente uma pequena viagem provocada pelo famoso "cigarrinho da tarde", isso com certeza deu inspiração à um grande clássico.

Prelúdio: A letra já fala tudo. A música se assemelha à um sonho, com o mistério, a tranquilidade, e subitamente, a agitação rápida de um sonho em uma noite dormida, que se extingue tão rápido quanto a luz de um relâmpago.

Loteria de Babilônia: Que já fique claro, o nome da música não tem quase nada relacionado à letra (pelo menos, não há nenhum trecho em que se diga: "... Loteria de Babilônia... Loteria de Babilônia!). Foi a música que levou pela segunda vez o sucesso à Raul em 1973, durante o Phono 73, uma das mais conhecidas e "raras" apresentações do cantor, pois a gravação original (REALMENTE GRAVADA AO VIVO), dificilmente seria encontrada em algum vinil/CD, além das filmagens, que até hoje não receberam nenhum relançamento restaurado. Detalhe: Algumas pessoas se dirigem à música como "Loteria de Babilônia", e outras que se referem como "Loteria da Babilônia". Isso se deve à uma confusão de nome no lançamento original e em relançamentos, e até agora, pouco se sabe sobre seu nome original. Segunda observação: A versão presente no Gitâ, não foi gravada ao vivo, como muitos pensam. Ela foi na verdade gravada (e editada/mixada) em estúdio, para parecer que foi gravada ao vivo.

E finalmente: GITÂ: O grande clássico que dá nome ao álbum. Frequentemente atacada por religiosos por "fazer apologia ao demônio". Mas o que essas pessoas não sabem, é que ela na verdade é uma "homenagem" ao livro "Bhagavad Gitâ", uma alusão aos três deuses Hindus: Sheeva, Brahma, e Krishna. Raul escreveu essa música com a ajuda de Paulo Coelho, que lhe apresentou os livros exotéricos, e inclusive, o livro "Bhagavad Gitâ", o livro religioso dos indianos, que deu origem à esse clássico inesquecível da música brasileira.

Então, é isso pessoal, espero que tenham gostado da postagem. Após algumas semanas de pesquisas sobre o disco, aqui estou eu terminando de escrever o artigo ao som de "Gitâ". Compartilhem para seus amigos que também são fãs do Raul, e à fãs de música também. Então, mais uma vez, espero que tenham gostado do meu trabalho aqui, até mais, muita paz e boa música à todos. (Quem tiver alguma sugestão de artigo, que entre em contato comigo!).

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